ESG e Investimentos Sustentáveis: Lucro com Propósito

ESG e Investimentos Sustentáveis: Lucro com Propósito

Em um mundo cada vez mais consciente dos desafios ambientais e sociais, integrar critérios de ESG aos investimentos deixou de ser uma tendência de nicho para se tornar uma estratégia central de negócios. Este artigo explora como alinhar lucro e propósito pode gerar valor duradouro e impacto positivo.

Conceitos centrais de ESG e investimento sustentável

O conceito de Environmental, Social and Governance (ESG) reúne três pilares essenciais para avaliar a sustentabilidade das empresas:

Ambiental (E): envolve aspectos como emissões de gases de efeito estufa, adoção de energia limpa e renovável, gestão de uso de água, tratamento de resíduos, combate ao desmatamento e preservação da biodiversidade.

Social (S): abrange direitos trabalhistas, diversidade e inclusão no local de trabalho, saúde e segurança ocupacional, impacto em comunidades e investimentos em educação e bem-estar.

Governança (G): foca na composição do conselho, transparência e ética corporativa, combate à corrupção, políticas de remuneração e de gestão de riscos.

Dentro desse contexto, é importante diferenciar três abordagens:

  • Investimento sustentável/responsável: considera fatores ESG na análise de risco e retorno, sem necessariamente medir impacto direto.
  • Investimento de impacto: busca gerar um efeito social ou ambiental mensurável, além do retorno financeiro.
  • Finanças verdes e títulos rotulados: incluem green bonds, social bonds, sustainability bonds e sustainability-linked bonds que financiam projetos específicos.

Ao longo da última década, essas práticas passaram de um fator reputacional para um componente estrutural da avaliação de risco, impulsionadas por reguladores, investidores institucionais e consumidores.

O contexto global: por que “lucro com propósito”?

As mudanças climáticas apresentam riscos físicos e de transição que impactam diretamente a performance financeira das empresas. Eventos extremos, como inundações e secas, elevam custos operacionais e seguradores, enquanto novas regulações de carbono podem restringir setores inteiros.

Além disso, riscos reputacionais e legais — como boicotes, perda de licença social para operar e multas ambientais — podem desvalorizar ativos e reduzir a atratividade de uma empresa diante de investidores. A adoção de uma gestão ESG robusta contribui para:

Redução de custos operacionais com eficiência energética, menor consumo de água e diminuição de litígios.

Acesso a capital mais barato, graças a linhas de crédito verdes e maior interesse de fundos que priorizam sustentabilidade.

Fortalecimento da fidelização de clientes e atração de talentos, sobretudo entre gerações que valorizam propósitos alinhados a seus valores pessoais.

Empresas com boa governança tendem a ser mais resilientes em crises e apresentam menor volatilidade de lucros no longo prazo. Para isso, é fundamental estabelecer metas e indicadores claros (KPIs ESG) que conectem o propósito às métricas de desempenho.

Números globais relevantes

O mercado global de ativos integrando critérios ESG ultrapassou trilhões de dólares em fundos e mandatos, com crescimento de dezenas de por cento na última década. O segmento de títulos verdes, sociais e de sustentabilidade emitiu centenas de bilhões de dólares anualmente, refletindo a expansão desde meados de 2010.

Embora a necessidade global seja quatro vezes maior que o montante atual, apenas cerca de US$ 100 bilhões desembolsados anualmente chegam à América Latina, evidenciando uma subalocação em relação ao potencial da região.

Panorama brasileiro de ESG e finanças sustentáveis

O Brasil se destaca como destino de capital para transição climática e conservação, especialmente com a realização da COP30 em Belém (PA). Nos últimos anos, o país avançou em regulamentações e iniciativas autorregulatórias:

A Anbima lançou, em 2022, o selo IS (Investimento Sustentável), promovendo maior transparência e credibilidade aos fundos que seguem critérios ESG. Paralelamente, a taxonomia sustentável brasileira define padrões para identificar atividades econômicas ambientalmente responsáveis.

Apesar dos avanços, menos de 1% do patrimônio líquido total da indústria de fundos no Brasil está classificado formalmente como sustentável, indicando um espaço enorme para expansão.

Mercado de fundos sustentáveis

O segmento de fundos IS registrou um patrimônio líquido de R$ 36,8 bilhões em julho de 2025, com alta de 48,4% em seis meses e 89% em um ano. A predominância de estratégias focadas em mudança climática e transição energética corresponde a cerca de 72% dos recursos.

  • Renda fixa: ~65% do PL (R$ 23,8 bi), +170,7% em 12 meses graças a emissões de títulos verdes.
  • Multimercado: redução de R$ 3,6 bi para R$ 1,5 bi no último ano.
  • Ações: leve queda de R$ 2,6 bi para R$ 2,3 bi.
  • FIPs ESG: salto de R$ 666,5 mi para R$ 2,3 bi, refletindo maior apetite por infraestrutura e private equity.

Dívida sustentável e títulos rotulados

Até o primeiro semestre de 2025, empresas brasileiras emitiram cerca de US$ 67,8 bilhões em green, social, sustainability e sustainability-linked bonds. Desse montante, 73% seguiram a triagem da Climate Bonds Initiative, reforçando a base científica e a credibilidade dos projetos.

Setores como energia renovável, agricultura de baixo carbono e infraestrutura hídrica lideram os destinos desses recursos. No entanto, a instabilidade geopolítica e as taxas de juros elevadas provocaram queda de 65% nas emissões nacionais e de 25% no mercado global no primeiro semestre de 2025, evidenciando sensibilidade do segmento ao ambiente macroeconômico.

Iniciativas públicas e instrumentos inovadores

O programa Eco Invest, do Tesouro Nacional, é um exemplo de blended finance no Brasil, combinando capital subsidiado com recursos privados para reduzir custos e riscos de projetos ambientais. Essa estrutura atrai investidores ao oferecer garantias e incentivos alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Outras iniciativas incluem títulos incentivados para restauração florestal e fundos de garantia para micro e pequenas empresas atuantes em práticas sustentáveis, ampliando o acesso ao crédito e acelerando a transição verde.

Conclusão: O futuro dos investimentos com propósito

O movimento em direção a investimentos alinhados a propósitos demonstra que é possível conciliar retorno financeiro e contribuição ao desenvolvimento sustentável. Para investidores e gestores, a chave é incorporar ESG de forma estratégica, monitorar KPIs e comunicar resultados de maneira transparente.

No Brasil e no mundo, o potencial de crescimento é imenso. Com marcos regulatórios mais sólidos, maior maturidade do mercado e engajamento de todos os stakeholders, o conceito de “lucro com propósito” se consolidará como a norma, não mais a exceção.

Ao adotar práticas ESG, empresas e investidores não só mitigam riscos e capturam oportunidades, mas também constroem legados duradouros para gerações futuras.

Por Maryella Faratro

Maryella Faratro